segunda-feira, 23 de junho de 2014

O que a prisão me ensinou sobre liderança

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Passei pouco mais de dois anos de minha vida na cadeia… como funcionário.
Um dos aspectos mais interessantes dessa responsabilidade era a supervisão da produção de alimentos na instituição correcional de nosso município. Foi uma experiência valiosa para mim e minha equipe, pois experimentamos um lado da sociedade que poucos conhecem. E pude entender que havia muitas verdades fundamentais do comportamento humano que eu não teria reparado se não tivesse a chance de viver neste ambiente.
Minha equipe era composta por quatro pessoas que dirigiam as operações diárias das áreas da cozinha. O resto do trabalho era feito em cima das “populações”, tanto masculina quanto feminina, de detentos. Nossa tarefa não era apenas fazê-los trabalhar, mas fazê-los desenvolver habilidades necessárias para que pudessem estabelecer uma vida de trabalho mais estável quando voltassem ao convívio social. Foi um grande privilégio influenciar suas vidas para melhor. Mas a tristeza foi saber que muito poucos responderam ao treinamento e à crença que tentamos incutir neles. No entanto, para aqueles poucos, os esforços valeram o trabalho e os desafios emocionais.
Lembro-me de um dia em que os presos estavam servindo a refeição do almoço. Eles haviam organizado a refeição da última unidade a ser servida, e percebemos que estávamos sem o prato principal. Descobrimos que uma jovem detenta tinha contado mal e, como resultado, estávamos com uma refeição a menos para uma unidade inteira. Quando moça percebeu que cometera um erro,  desmoronou. Podia-se ver o medo e o desânimo em seu rosto.
A questão “comida” nas prisões, é uma coisa complicada. Quaisquer problemas podem resultar em inadequações no comportamento individual, ou mesmo geral. Muitos incidentes nas refeições em cadeias já  causaram até rebeliões. Não preciso dizer então, que a moça sabia perfeitamente que poderia ter provocado um sério incidente.
Meu assistente e eu nos aproximamos dela, e antes de dizermos qualquer coisa, ela disse: “Eu errei. Estou com um grande problema. Comecei uma rebelião”. Ela estava visivelmente tremendo. Tentamos acalmá-la, e eu disse: “Calma, também não é assim”. Temos mais frango do que estávamos planejando usar para hoje à noite, e, juntos, nós três podemos transformar isso num almoço em 10 minutos”.
Infelizmente ela não se acalmava. Mas à medida em que a envolvemos em fazer o restante do almoço, começou a se recompor. Dentro de instantes terminamos o almoço, e tivemos o intervalo dos presos para comer.
Conversamos com ela novamente e reforçamos que tudo estava bem. Mas ela ainda não conseguia acreditar que estávamos dispostos a perdoá-la e ajudá-la. Apenas no dia seguinte ela começou a entender que podia confiar em nós, e parecia disposta a trabalhar ainda mais para garantir nossa confiança nela.
Acredito plenamente que esta moça foi uma pessoa que, em toda  sua vida ouviu que nunca iria ser nada, que era estúpida, ou que iria acabar na cadeia. (Vários estudos mostram que até 90% dos jovens estão na prisão porque alguém em sua vida disse que eles iriam acabar lá). Também sinto que ela nunca foi elogiada por qualquer coisa em sua vida, como evidenciado por sua reação quando tentamos confortá-la neste incidente. A verdade é que esta jovem só precisava de uma oportunidade para se sentir valorizada, útil, e confiável.
Aprendi, e reforcei, algumas lições valiosas naquele dia:
  • Sempre estar disposto a ajudar uma pessoa com uma solução
  • Sempre encontrar um motivo para elogios
  • Entender as necessidades das pessoa para conduzi-las de forma mais eficaz
  • Reforçar o valor que cada indivíduo tem
  • Ter como meta influenciar positivamente a vida de cada pessoa com quem você tem contato
Gostaria de poder terminar a história de modo feliz, dizendo que esta jovem deu uma reviravolta em sua vida naquele dia. Infelizmente, ela voltou ao seu antigo círculo de amigos, que a protegia, e se enredou na criminalidade ainda mais profundamente. Mas ainda que ela não tenha conseguido virar o jogo, por um momento nós quebramos o padrão de sua vida. Outros presos que experimentaram a mesma situação, fizeram mudanças positivas e agora estão influenciando outros. E tudo porque os ensinamos e acreditamos neles, e lhes demos uma chance para brilhar.
Toda pessoa precisa de alguém que acredite nela. Seja no trabalho, em casa ou na sua comunidade. O trabalho duro e o compromisso emocional são pequenos sacrifícios em comparação aos benefício que podem ser produzidos na vida de alguém. Liderar é isto, criar condições para que as pessoas deem o melhor de si mesmas. Mesmo quando nem elas acreditam nisto.
Autor: Paul LaRue
Fonte http://recursosehumanos.com.br/artigo/lideranca-compromisso/?utm_source=Rede+O+Gerente&utm_campaign=82e77fed24-Recursos_E_Humanos_26_05_2014&utm_medium=email&utm_term=0_651183821a-82e77fed24-106172596

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