domingo, 30 de dezembro de 2012

Meu nome é TRABALHO. Sobrenome: COM PAIXÃO


No texto anterior “Meu nome é TRABALHO. Sobrenome: MAIS TRABALHO”, tive a oportunidade de mostrar os malefícios de se trabalhar demais sem ter um propósito maior.
Intencionalmente não agreguei àquele texto dois testes para que você se autoavalie com respeito a ser um workaholic.
O primeiro deles foi publicado na Revista Você S.A. (fevereiro/2012) e consta de dez perguntas abaixo listadas:
1 – Frequentemente acredita que suas tarefas são urgentes?
(  )  Sim           (  )  Não
2 – Sente-se ansioso (a) com elas?
(  )  Sim           (  )  Não
3 – Tem receio de parecer pouco eficiente perante o chefe?
(  )  Sim           (  )  Não
4 – Tem receio de adiar tarefas?
(  )  Sim           (  )  Não
5 – Não se desliga do trabalho nem nos fins de semana?
(  )  Sim           (  )  Não
6 – Desmarca muitos compromissos pessoais por causa do trabalho?
(  )  Sim           (  )  Não
7 – Nas horas de folga, tem vontade de saber o que estaria acontecendo no escritório?
(  )  Sim           (  )  Não
8 – Sente-se incomodado (a) quando não entrega a tarefa no prazo?
(  )  Sim            (  )  Não
9 – Tem insônia regularmente porque fica pensando sempre no trabalho?
(  )  Sim           (  )  Não
10 – Acredita que o trabalho é sua principal fonte de realização?
(  )  Sim          (  )  Não
Avaliação – Se você respondeu SIM a mais de sete perguntas, é hora de repensar sua relação com o trabalho. Ser responsável com a carreira, encará-la com seriedade é benéfico. Mas, por mais importante que seja, o trabalho não deve ser sua única fonte de realização.
Um segundo teste, publicado no caderno Negócios e Carreiras, do Jornal Folha de São Paulo (7 de outubro/2012), foi formulado por Stale Pallesen, professor de psicologia da Universidade de Bergen (Noruega). Este teste consta das seguintes sete perguntas:
1 – Você pensa em como conseguir mais tempo para trabalhar?
(  )  Sim           (  )  Não
2 – Você passa muito mais tempo trabalhando do que havia planejado?
(  )  Sim           (  )  Não
3 – Você trabalha para reduzir sentimentos de culpa, desamparo ou depressão?
(  )  Sim           (  )  Não
4 – Você já ignorou pessoas que disseram que era preciso reduzir a carga de trabalho?
(  )  Sim           (  )  Não
5 – Você fica estressado ou inibido se é proibido de trabalhar?
(  )  Sim           (  )  Não
6 – Você deixa de praticar hobbies, atividades de lazer e exercícios por causa do trabalho?
(  )  Sim           (  )  Não
7 – Você trabalha a ponto de prejudicar sua saúde?
(  )  Sim           (  )  Não
Avaliação – Se você respondeu SIM a pelo menos quatro dessas perguntas, isso pode sugerir algum grau de vício em trabalho.
Agora que você já se autoavaliou, sugiro-lhe dois caminhos: se você se considera um (a) workaholic, pare a leitura, faça uma reflexão e mude este seu estilo de trabalhar.
Mas, se você não se julga um viciado em trabalho e se identifica com o título deste texto e trabalha muito, trabalha duro, mas com paixão, provavelmente você é um (a)worklover.
Este termo foi criado pelo psicólogo Wanderley Codo e significa que a pessoa “é extremamente apaixonada pelo que faz”.
Diferentemente do workaholic, a pessoa tem a percepção e a consciência que, se precisar trabalhar demais, isto não é um vício, mas uma necessidade de momento, como fechar um relatório de vendas, finalizar um balanço, planejar as ações para o início do ano, etc.
Um worklover também está sujeito a desenvolver alterações na sua saúde, mas com uma diferença: ele(a) pondera e decide se vai “cair de cabeça” ou não na realização de um trabalho que lhe exigirá um ritmo intenso.
Já que a pessoa decidiu e irá passar várias horas no local de trabalho, que ela faça desta atividade uma fonte de prazer. Aliás, Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, afirma: “quem se sente bem na esfera profissional, tem duas vezes mais chance de estar bem nas outras dimensões da sua vida”.
Ser um worklover é…
… ser uma pessoa que ama seu trabalho e sente um prazer enorme em desenvolvê-lo, porque acredita que tem sempre algo a acrescentar ou transformar para melhor;
… sempre estar satisfeito (a) e saber como lidar com as adversidades decorrentes de seu trabalho, não medindo esforços para resolvê-las;
… trabalhar muitas horas por dia e saber que seu prazer e sua felicidade são tão grandes que a passagem do tempo não é percebida durante sua realização;
… saber, quando sobrecarregado (a), priorizar as tarefas mais urgentes e importantes;
… quando necessário, pedir ajuda em busca de outras soluções para seguir adiante;
… saber relacionar-se muito bem com seus pares, seus amigos, dentro mou fora do ambiente de trabalho;
… não ficar pensando e nem dar muita importância ao trabalho quando não está trabalhando;
… saber buscar o equilíbrio entre seu trabalho e suas atividades pessoais, sempre tendo tempo disponível para seu lazer, seus compromissos sociais, sua família e seus amigos;
… ser um Ser muito saudável, física e psicologicamente, quando comparado a um (a)workaholic, porque sabe valorizar sua qualidade de vida.
Para Bernt Entschev, o worklover “ama seu trabalho, sim, mas ama, acima de tudo, a si próprio”.
Para o (a) worklover, o trabalho tem significado para si e para a empresa e não é visto apenas como a fonte monetária para o pagamento de suas contas. Ao finalizá-lo, a pessoa se da conta da paixão que teve em realizá-lo e como ficou feliz, independentemente do número de horas gastos na sua execução.
Paixão e vocação 
Já abordei, em alguns textos, o que é dom, talento e vocação, aquilo que está diretamente relacionado à nossa atividade laboral, sejamos um profissional autônomo, colaborador em uma empresa, profissional liberal ou funcionário público.
Não serei repetitivo. Entretanto quero apenas lembrar que, destes três, a vocação é a mais instigante.
Vocação significa chamamento, predestinação, tendência, pendor ou predisposição.
É aquela voz interior, que vem da alma e que faz com que sintamos prazer em realizar determinada tarefa e, enquanto a fazemos, ela se torna fácil, por mais árdua que seja.
O binômio profissão (ou ocupação) – vocação constituem uma relação indivisível para aqueles profissionais que se destacam em suas áreas de atividades, seja um atleta, um artista, um executivo, um camelô ou um peão de obra.
Quem segue sua vocação está sempre feliz com o que faz, pois encontrou significado em seu trabalho.
Quem segue sua vocação não trabalha, se diverte, pois encontrou a razão, ou razões, para tal.
Quem segue sua vocação tem sempre um brilho no olhar enquanto trabalha, desde seu início até sua conclusão.
Quem segue sua vocação nunca está cansado; está sempre disposta física e mentalmente.
Quem segue sua vocação está sempre automotivado e tem energia para superar os obstáculos inerentes de sua atividade e vencer os desafios mais difíceis.
Quem segue sua vocação, descobre sua missão de vida na esfera do trabalho e os porquês de estar fazendo aquilo que escolhei fazer e que lhe proporciona prazer e felicidade.
Quem segue sua vocação é, sem dúvida, um worklover, alguém apaixonado pelo que faz.
“Se o trabalho não tiver significado para a pessoa que o desenvolve, certamente ela nunca se sentirá realizada como profissional”, afirma Wanderley Codo.
Paixão e engajamento 
Cyro Martins ensina que “comprometer-se é apenas fazer o seu trabalho. Engajar-se vai muito além; trata-se de realizar algo com paixão”.
Quanto mais apaixonado a pessoa for pelo seu trabalho, mais ela irá trabalhar de forma engajada. Assim como reza o ditado hindu que diz: “põe todo o teu corpo e toda tua alma naquilo que estás fazendo agora”.
Este estado de engajamento total, foco e concentração totais no momento da realização do trabalho faz com que a pessoa atinja um estado de interiorização tal que se assemelha a um nirvana ou um samadhi.
Neste estado a pessoa não se distrai com o que ocorre à sua volta tal seu grau de absorção naquilo que está fazendo. Isto se traduz em ter a consciência e o controle da sua atenção.
Desta forma, o trabalho, a tarefa, além de ser feita de forma apaixonada, é realizada sem pressões intensas e flua de forma espontânea e sem interrupções, como atender telefonemas, checar e-mails e outras coisas que podem tirar o foco, a atenção e a concentração.
De forma resumida, esta é a teoria do FLOW (fluir) que foi desenvolvida pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihaly, o qual afirma que pessoas que trabalham quando alcançam este estado (experiência), tornam seu trabalho muito mais produtivo e significante.
Paixão e obra 
Para Patricia Próspero, o trabalho se relaciona diretamente com os três planos da pessoa: físico, mental e espiritual.
“O primeiro é a questão de agirmos visando atender aos nossos anseios perante a sociedade: é por meio do dinheiro conquistado a partir do trabalho que materializamos nossos sonhos, adquirindo bens, pagando contas, carro, viagens.
Já o plano mental foca o aprendizado contínuo, ou seja, você é exposto a novos desafios que o estimulam a se aprimorar na função que você exerce em uma empresa.
O espiritual, por sua vez, é a grande realização pessoal. É o principal fator dos pilares que sustentam os motivos pelos quais trabalhamos”.
José Carlos T. Moreira afirma que o engajamento, o comprometimento, “é o que nutre o forte vínculo afetivo entre a pessoa e seu trabalho; é o que mexe com a alma, pois o corpo apenas se envolve, mas a alma, ela sim, se engaja”.
Finalizo este artigo com um texto budista extraído da reportagem “O sentido do trabalho” (Revista Melhor/2011):
“O Mestre, na arte da Vida, faz pouca distinção entre o seu trabalho e o seu lazer, entre sua educação e sua recreação, entre seu amor e sua religião. Ele dificilmente sabe distinguir um corpo do outro. Ele simplesmente persegue sua visão de excelência em tudo que faz, deixando para os outros a decisão de saber se está trabalhando ou se divertindo. Ele acha que está sempre fazendo as duas coisas simultaneamente”.
Por isso concordo com Cortella, quando substitui a ideia de trabalho (tripalium) pela ideia de obra (poiesis), isto é “eu me vejo naquilo que realizo”.
E, quanto mais eu me vir naquilo que realizo, certamente mais apaixonado serei por aquilo que faço.

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